segunda-feira, 12 de abril de 2010

Farofa de domingo!

Ai, já começou o Didi!
As noites de domingo eram sempre iguais. As sete horas depois daquela abertura em desenho animado dos Trapalhões, escutávamos as palmas na porta.
Quando soava a música de abertura, minha madrinha fritava a carne em cubinhos, cheirava a casa inteira. Fazia uma farofa, colocava num saquinho e ficavamos esperando.
Ao ouvir as palmas, eu ia atender. Já conseguia alcançar o trinco! Através do portãozinho baixo, que pra mim era enorme, via aquela criança, mais nova que eu.
Era um meninho, queimado de sol, cabelo carapinha claro, chupava um dedo. Acho que nem preciso dizer que vinha todo sujo. Coberto de grude.
Era ele quem batia todo domingo naquele horário. Vinha pedir comida. Aquilo era quase um ritual. Se a minha madrinha se recusasse a fazer a marmitinha do garoto eu abria a boca, mas não lembro disso ter acontecido.
Eu entregava o saquinho com a farofa e ele pegava e saia. Eu ficava olhando ele dobrar a esquina todo orgulhoso.
No dia em que ela ia trabalhar deixava pronto pra eu entregar.
Essa sempre foi uma lembrança reconfortante da minha infância. Consigo lembrar o cheiro da carne, a textura da farofa, o sabor. As noites sempre quentes e o vento batendo no meu rosto no momento da entrega.
Nunca soube de onde vinha, onde morava, seu nome. Mas isso nunca foi importante.
O que importava era a felicidade que via naqueles olhos tristes ao receber o saquinho que o alimentaria naquela noite!

Um comentário:

Posso continuar? Hãn?!