Eu e a enchente!

- Aííííi, pára que vou descer!!!
- Calma moça, aqui não dá pra parar.
- Mas esse motorista tá doido, meu Deus!
Eu todo ano me encontro, ou me perco, no meio de uma enchente.
As chuvas continuam castigando a nossa sampa emborrachada de asfalto. E o mundo!
E lá estava eu, a meia noite voltando pra casa depois de uma reunião. O ônibus mudou o caminho duas vezes pra se livrar das águas.
Mas no começo da cupecê, o ônibus começou a zig-zaguear avenida a fora. O motorista sentou o pé no acelerador, agarrou no volante e jogava o ônibus de um lado pro outro.
Acho que pra desviar da correnteza. Eu me sentia num filme B, mal dublado que só poderia passar antes do Casos de Família com Cristina Rocha.
Enquanto, o motorista corria contra a correnteza ( mesmo!), o povo gritava dentro do ônibus. A moça magrinha sentada ao meu lado, gritava nervosa.
- Eu vou ter um negócio! Eu vou descer. Moço...
- Fica aí ,ele não pode parar, se parar a gente fica ilhado no meio dessa enchente.
Eu só pensava no meu tênis que tava limpinho.

A água invadiu o ônibus. Uma moça meio cheinha pulou no colo de um moço sentado perto da porta.
No fundão o povo super animado (?!), fazia uma ola sonora!
Eu nunca poderia imaginar que aquele rio que um dia fora canalizado perto de casa, se revoltaria, e mais, que eu estaria no meio daquele fororô!
- Como eu vou chegar em casa? A pracinha alaga completamente...
   Meu pai, é verdade! Eu também teria que passar por ali!
Liguei pra casa.
-Tá tudo bem por aí , Vagner?
- Tá.
-Aqui na cupecê, tá um rio selvagem.
- A pracinha também deve estar alagada...
E estava.
Abri o guarda chuva, encostei num poste e fiquei vendo alguns carros boiarem.
Pelo menos dessa vez eu estava com a cueca seca!

Ps.: Nessa mesma noite, mais tarde, minha amiga Veruska perdeu todos os seus bichinhos numa enchente.
     Nanuska, vamos acreditar que no céu dos gatos tenha sardinha a vontade e que lá, seja sempre sequinho!