Quando tinha uns 10 pra 11 anos, meu sonho era poder trabalhar numa fábrica de cocadas de doce de leite que tinha na minha cidade.
Nem sei direito onde ficava e duvido muito que naquela época, soubesse.
Minha prima, uns dois anos mais velha e mais atirada no mundo, me apresentou essa ideia:
- Já pensou poder comer quantas cocadas quiser?!
Nossa isso era a extrema felicidade! Outra coisa que nessa época eu também não sabia que existia. Não com esse nome e nem tão pouco com o que significa hoje.
Minha prima, que perdi o contato a mais de 18 anos, minha vizinha nessa época, me contou direitinho no que consistiria o trabalho:
- A gente embrulha as cocadas com papel de seda branco, bem direitinho. E pode comer quantas cocadas quiser e trazer pra casa!
Isso é fácil!
Olhando pra trás, vejo que nem devia ser uma fábrica. Alguém que devia fazer cocadas caseiras e precisava de mãos habilidosas e baratas devia ter falado com essa minha prima que vivia saracoteando cidade a fora.
Tempos bons, onde uma cocada de leite poderia significar a extrema felicidade!
Hoje descobri que essa minha prima, enfartou a 4 meses atrás.
E minha mãe dizia que notícia ruim corre?!
Depois de mais de 18 anos, recebi essa notícia assim, meio torta!
É, tudo que é vivo morre!
Hoje comi uma cocada de leite embrulhada mecanicamente em um plástico e a única coisa que ainda sinto é um vazio, profundo.